Se pararmos para pensar no significado da palavra "filosofia", isto é, se fizermos uma abordagem etimológica, verificamos que se trata de uma palavra com origem no grego resultante da junção de outras duas: philia e sophia. Philia significa amor ou amizade. Sophia, por sua vez, significa saber ou sabedoria. Logo, philosophia significa amor pela sabedoria. Mas que amor e saber serão esses? Será que estamos a falar de um amor como o que aproxima dois seres humanos, por exemplo, e que quando é cuidado gera tranquilidade e paz de espírito? E o saber? Estaremos nós perante o domínio de uma técnica específica? Como quando dizemos, por exemplo, que sabemos dançar ou conduzir um automóvel? Para responder a estas perguntas, o melhor é recuarmos à Grécia Antiga, séc. Va.c., e pensarmos um pouco naquele que é para muitos o primeiro grande filósofo: Sócrates.
Sócrates, tal como aprendeste na primeira aula, nunca escreveu. De acordo com Platão, que lhe deu voz nos seus famosos diálogos, a sua estratégia era outra. Preferia andar pela Ágora - o espaço profano das cidades - colocando questões embaraçosas àqueles que elegia para interlocutor. Efetivamente, tal como dizia de si próprio, Sócrates não ensinava nada a ninguém. Ao contrário dos sofistas, uma espécie de sábios seus contemporâneos, ele não detinha respostas para os problemas que colocava. A ideia era outra. Tratava-se de colocar questões atrás de questões de modo a que os interrogados se apercebessem da fragilidade das suas respostas. Dito de outro modo: Sócrates estava mais interessado em confrontar os seus interlocutores com aquilo que ignoravam, com o caminho que ainda teriam a percorrer, do que em ensinar-lhes o que quer que fosse. Daí a sua frase célebre "só sei que nada sei" e a ideia que ainda hoje prevalece de que em filosofia as perguntas são mais importantes do que as respostas. É essa, aliás, a lição que devemos tirar da "Alegoria da Caverna", igualmente tratada na primeira aula: devemos parar para pensar naquilo que nos aprisiona e impede de ver as coisas tal qual elas são. E que coisas são essas? Que grilhões são esses? Tudo, tudo aquilo que nos impede de pensar e de continuar a questionar: as certezas que detemos e não testamos, como os preconceitos e os dogmas; as primeiras impressões que não avaliamos, como as que resultam dos sentidos e por vezes nos iludem; a ingenuidade com que confiamos naqueles que estão interessados em manipular-nos, como acontece com os mass media, os publicitários e os maus políticos; enfim, tudo quanto possa impedir-nos de pensar pela nossa cabeça e evitar a precipitação.
Como vês, para recuperarmos a abordagem etimológica, não se trata de um amor que gere grande comodismo e satisfação. Não é para isso que estudamos Filosofia. Pelo contrário, aquilo que se espera de ti é inconformismo e inquietação. Espera-se que duvides e que avalies cada situação com espírito crítico, isto é, que testes as tuas crenças e opiniões antes de as assumires como as melhores. Que tenhas coragem de pensar por ti próprio -sapere aude-, como disse Kant, outro grande filósofo de quem falaremos, e que te tornes num ser autónomo. Assim como se espera, tal como Sócrates, que o faças persistente e radicalmente, isto é, sem que alguma vez te dês por satisfeito com as respostas que vais encontrando.
Em relação ao tipo de saber em questão, ainda em sintonia com Sócrates, a interrogação filosófica não tem limites. Não se trata de um saber específico cuja área de investigação está mais ou menos delimitada, tal como acontece com as outras ciências. Sócrates tanto perguntava "o que é a virtude", o que poderá interessar a todos, como perguntava "o que é o verdadeiro saber", ao alcance de apenas de alguns. Ou seja, a Filosofia tanto nos pode ajudar nas questões do dia a dia, daí dizer-se que esclarece o senso comum - o conjunto de ideias feitas àcerca dos problemas mais simples que herdamos ao longo do processo de socialização -, como nos remete para questões muito difíceis. Algumas são tão difíceis que não é possível responder-lhes de modo universal, isto é, que agrade a todos sem exceção, tal como quando perguntamos se "Deus existe?" ou "Qual é o sentido da vida?".
Seja como for e a propósito do que quer que seja, talvez seja esta a ideia mais importante por agora, a Filosofia pede-nos que nunca deixemos de desconfiar. Sempre que se justifique, pois claro, uma vez que há diferentes graus de certeza - não preciso de pôr a mão no fogo para verificar por mim mesmo que o fogo queima!-. Que desconfiemos e testemos as conclusões a que vamos chegando, como que se de um caminho sem fim à vista se tratasse. Um caminho por vezes difícil, é verdade, mas indispensável para quem quer saber o tipo de chão em que pisa. Alinhas?
Como vês, para recuperarmos a abordagem etimológica, não se trata de um amor que gere grande comodismo e satisfação. Não é para isso que estudamos Filosofia. Pelo contrário, aquilo que se espera de ti é inconformismo e inquietação. Espera-se que duvides e que avalies cada situação com espírito crítico, isto é, que testes as tuas crenças e opiniões antes de as assumires como as melhores. Que tenhas coragem de pensar por ti próprio -sapere aude-, como disse Kant, outro grande filósofo de quem falaremos, e que te tornes num ser autónomo. Assim como se espera, tal como Sócrates, que o faças persistente e radicalmente, isto é, sem que alguma vez te dês por satisfeito com as respostas que vais encontrando.
Em relação ao tipo de saber em questão, ainda em sintonia com Sócrates, a interrogação filosófica não tem limites. Não se trata de um saber específico cuja área de investigação está mais ou menos delimitada, tal como acontece com as outras ciências. Sócrates tanto perguntava "o que é a virtude", o que poderá interessar a todos, como perguntava "o que é o verdadeiro saber", ao alcance de apenas de alguns. Ou seja, a Filosofia tanto nos pode ajudar nas questões do dia a dia, daí dizer-se que esclarece o senso comum - o conjunto de ideias feitas àcerca dos problemas mais simples que herdamos ao longo do processo de socialização -, como nos remete para questões muito difíceis. Algumas são tão difíceis que não é possível responder-lhes de modo universal, isto é, que agrade a todos sem exceção, tal como quando perguntamos se "Deus existe?" ou "Qual é o sentido da vida?".
Seja como for e a propósito do que quer que seja, talvez seja esta a ideia mais importante por agora, a Filosofia pede-nos que nunca deixemos de desconfiar. Sempre que se justifique, pois claro, uma vez que há diferentes graus de certeza - não preciso de pôr a mão no fogo para verificar por mim mesmo que o fogo queima!-. Que desconfiemos e testemos as conclusões a que vamos chegando, como que se de um caminho sem fim à vista se tratasse. Um caminho por vezes difícil, é verdade, mas indispensável para quem quer saber o tipo de chão em que pisa. Alinhas?
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