domingo, 8 de dezembro de 2013

. Condicionantes e determinantes


Como poderás verificar pela análise do exemplo explorado na publicação anterior, não há ação que não esteja sujeita à influência de fatores internos e externos que a condicionam. Ainda assim, por muito influentes que sejam, as condicionantes apenas representam alternativas possíveis, que podes ou não seguir. Ou seja, em última análise és tu quem decide qual o caminho a seguir. Quando assim não é, quando não tens diferentes alternativas entre as quais possas decidir e te vês obrigado a seguir um único caminho possível, diz-se que a tua ação é determinada. Dito de outro modo: quando os fatores que antecedem a tua ação a tornam necessária, isto é, obrigatória e sem alternativa possível, diz-se que esses fatores são determinantes. Tal como se passa com os fenómenos naturais e com o comportamento animal, consequências inevitáveis de uma série de causas que não deixam espaço para qualquer imprevisibilidade - sempre que se reúnem determinadas condições atmosféricas não pode deixar de chover, assim como a leoa não poderá deixar de atacar sempre que tem fome ou necessidade de alimentar as crias -.
Se há momentos em que a ação humana é determinada como se de um fenómeno natural se tratasse, isto é, se os condicionantes se revelam fatores que nos deixam de mãos atadas sem liberdade para decidir, é o que veremos de seguida quando estudarmos a diferentes teorias acerca do livre arbítrio.

sábado, 7 de dezembro de 2013

. Condicionantes da ação


Embora nos pareçam o início de uma cadeia de acontecimentos, a verdade é que as nossas ações são o resultado de uma série de fatores que as tornam possíveis, limitando-as ou facilitando-as. A esses fatores, que podem ser internos ou externos, dá-se o nome de condicionantes. 
Imagina, por exemplo, que queres ir acampar durante o fim de semana numa montanha que sempre desejaste conhecer. Imagina também que tens teste de Filosofia na semana seguinte e que a tua tenda não está nas melhores condições. Ainda assim, após conversa com os teus pais, que de momento não dispõem do dinheiro necessário para comprares uma tenda nova, decides realizar o teu plano e acabas por conhecer outros jovens que tinham tido a mesma ideia. O que é que aconteceu neste caso? Fizeste novos amigos, com quem combinaste novas aventuras no futuro, porque decidiste ir acampar como desejavas. Ou seja, a tua decisão revelou-se o início de uma amizade que promete, mas terá sido a tua decisão livre de constrangimentos? Dito de outro modo, terás decidido sobre o vazio ou será que tomaste a tua decisão em função de fatores que a antecederam e a tornaram possível? A resposta, como poderás verificar, vai no segundo sentido. Ou seja, não obstante os factores externos que não controlavas e que quase inviabilizaram o teu projeto - tinhas teste de Filosofia e os teus pais não tinham dinheiro para uma tenda nova -, decidiste ir porque internamente a tua vontade de conhecer a montanha se sobrepôs e te disciplinaste de modo a concretizar o teu desejo - pediste uma tenda emprestada e levaste os apontamentos para estudar enquanto os outros ainda dormiam -. 
A conclusão que podemos tirar deste exemplo, de acordo com o que fica dito na introdução, é que existem sempre uma série de fatores, internos ou externos, que dificultam ou facilitam as nossas decisões. Esses fatores, cujo nome é condicionantes, podem ser de diferentes tipos, a saber: biológicos, socio-culturais e psicológicos.
As condicionantes biológicas, como o próprio nome indica, estão relacionadas com as nossas características biológicas. As que herdamos e nos tornam elementos de uma mesma espécie - o nosso código genético, a nossa constituição física - e as que adquirimos em consequência da nossa história pessoal - não poder fazer o teste de Filosofia, embora tenhas estudado, porque não tiveste cuidado e partiste um braço quando praticavas escalada durante o fim de semana da montanha -.
As condicionantes socio-culturais têm a ver com o facto de vivermos em grupo e de os grupos em que vivemos estarem organizados em função da regras e princípios. Falamos, pois claro, das normas, dos valores, das tradições, dos costumes...aceites pela sociedade em que vivemos e que não devemos violar sem que corramos o risco de nos tornarmos refractários - respeitar os mais velhos, por exemplo, uma norma presente em todas as culturas, por muito diferentes que sejam noutros aspetos como verás quando estudarmos os valores -.
As condicionantes psicológicas são todos os fatores que derivam dos nossos processos e estados mentais. Isto é, os nossos sentimentos, os nossos desejos, as nossas vontades, as nossas preocupações, os nossos receios... enfim, o nosso interior não anatómico. A este respeito devemos registar que nem sempre nos apercebemos destes fatores, uma vez que grande parte dos nossos processos mentais são inconscientes, como compreenderás quando estudares Freud nas aulas de Psicologia - os traumas, por exemplo, como falámos numa das últimas aulas, que podem ser verdadeiros obstáculos em muita situações -.
E a lista podia continuar...podíamos falar em condicionantes económicas - não compraste uma tenda nova porque não era a melhor altura dado o orçamento familiar -, em condicionantes políticas - não podermos expressar livremente a nossa opinião, como aconteceu durante a ditadura salazarista e continua a acontecer noutros países na atualidade -, entre outros, consoante queiramos classificá-los de modo mais ou menos geral - as condicionantes económicas e políticas podem ser incluídas nas condicionantes socio-culturais -. De qualquer modo, para concluir, é necessário ter em conta que embora os possamos distinguir na teoria nem sempre isso acontece na prática. Como aconteceu no caso do fim de semana na montanha, em que acabaste por ser condicionado por diferentes fatores ao mesmo tempo.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

. Ação: um fenómeno complexo


Embora nos pareça um processo simples, a ação humana é um fenómeno complexo. E isto por duas razões. Em primeiro lugar, como terás oportunidade de verificar quando estudarmos Ética, porque nem sempre é fácil decidir. Às vezes chega mesmo a ser trágico, como aconteceu a Antígona, uma história que já conheces e que convém sempre recordar. Em segundo lugar, porque a decisão é apenas um momento, entre outros, que completam o fenómeno da ação. 
Antes de decidirmos, de facto, há que considerar, pelo menos, dois momentos, sem o que não se tratará de uma decisão, mas de um impulso ou mera resposta involuntária a uma qualquer tendência que não controlamos. Tudo começa quando nos apercebemos ou manifestamos uma intenção, isto é, a vontade de realizar uma ação. Frequentar um curso de mergulho, por exemplo. Mas atenção: não deves confundir intenção, a expressão da tua vontade, com o motivo, isto é, a razão pela qual desejas realizar a ação. Frequentar um curso de mergulho porque os amigos com quem vou passar as férias de verão são mergulhadores e eu não quero ficar a assar na praia enquanto eles se divertem debaixo de água, para permanecer no mesmo exemplo. Depois da intenção, vem a deliberação, o momento em que estabeleces as alternativas possíveis para que o teu projeto possa vir a concretizar-se. É o momento, ainda no mesmo exemplo, em que procuras as escolas de mergulho existentes e avalias os prós e os contras de cada uma delas: uma é mais barata, mas fica longe de casa; outra é mais perto, mas os preços são inacessíveis; na terceira os preços continuam um pouco elevados, mas sabes que o professor oferece mais garantias... enfim, preparas-te para tomar uma decisão, o momento em que eleges uma das possibilidades e afastas todas as outras que equacionaste. Tomada a decisão, passas ao momento performativo da ação, isto é, a ação torna-se efetiva, traduz-se numa prática: inscreves-te na escola e começas a frequentar as aulas.
O facto de os primeiros momentos - intenção, deliberação e decisão - consistirem em processos exclusivamente mentais, uma vez que são partes da mesma planificação (passa-se tudo na tua cabeça!), leva muitas pessoas a ignorá-los e a confundirem a ação com o seu último momento, a concretização do plano. Quando assim é, quando queimamos etapas e saltamos precipitadamente para o último momento, pode acontecer que venhamos a arrepender-nos. A prova, afinal, de que a deliberação acaba por se impôr, ainda que no momento menos conveniente: poupei dinheiro indo para a escola mais longe, mas a técnica e o estilo que aprendi são incomparavelmente piores do que as propostas pelo professor da terceira escola...