segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

. Ação: um fenómeno complexo


Embora nos pareça um processo simples, a ação humana é um fenómeno complexo. E isto por duas razões. Em primeiro lugar, como terás oportunidade de verificar quando estudarmos Ética, porque nem sempre é fácil decidir. Às vezes chega mesmo a ser trágico, como aconteceu a Antígona, uma história que já conheces e que convém sempre recordar. Em segundo lugar, porque a decisão é apenas um momento, entre outros, que completam o fenómeno da ação. 
Antes de decidirmos, de facto, há que considerar, pelo menos, dois momentos, sem o que não se tratará de uma decisão, mas de um impulso ou mera resposta involuntária a uma qualquer tendência que não controlamos. Tudo começa quando nos apercebemos ou manifestamos uma intenção, isto é, a vontade de realizar uma ação. Frequentar um curso de mergulho, por exemplo. Mas atenção: não deves confundir intenção, a expressão da tua vontade, com o motivo, isto é, a razão pela qual desejas realizar a ação. Frequentar um curso de mergulho porque os amigos com quem vou passar as férias de verão são mergulhadores e eu não quero ficar a assar na praia enquanto eles se divertem debaixo de água, para permanecer no mesmo exemplo. Depois da intenção, vem a deliberação, o momento em que estabeleces as alternativas possíveis para que o teu projeto possa vir a concretizar-se. É o momento, ainda no mesmo exemplo, em que procuras as escolas de mergulho existentes e avalias os prós e os contras de cada uma delas: uma é mais barata, mas fica longe de casa; outra é mais perto, mas os preços são inacessíveis; na terceira os preços continuam um pouco elevados, mas sabes que o professor oferece mais garantias... enfim, preparas-te para tomar uma decisão, o momento em que eleges uma das possibilidades e afastas todas as outras que equacionaste. Tomada a decisão, passas ao momento performativo da ação, isto é, a ação torna-se efetiva, traduz-se numa prática: inscreves-te na escola e começas a frequentar as aulas.
O facto de os primeiros momentos - intenção, deliberação e decisão - consistirem em processos exclusivamente mentais, uma vez que são partes da mesma planificação (passa-se tudo na tua cabeça!), leva muitas pessoas a ignorá-los e a confundirem a ação com o seu último momento, a concretização do plano. Quando assim é, quando queimamos etapas e saltamos precipitadamente para o último momento, pode acontecer que venhamos a arrepender-nos. A prova, afinal, de que a deliberação acaba por se impôr, ainda que no momento menos conveniente: poupei dinheiro indo para a escola mais longe, mas a técnica e o estilo que aprendi são incomparavelmente piores do que as propostas pelo professor da terceira escola...

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